Não nos tornamos melhores viajando

As razões para sair de casa e ir viver uma experiência como worldpacker me parecem muito pessoais. São, de fato, inerentes a cada um. A diferença mora no aprendizado que se tira disso tudo, justo o que eu gostaria de compartilhar com novos viajantes.

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Apr 16, 2020

5min

Amigos feitos durante voluntariado no Chile

A versão de você que volta para o seu país de origem é uma muito mais evoluída do que a que saiu. 

Não nos tornamos melhores, longe disso. Aprendemos com as experiências como voluntários o quão gigante é o mundo e o quão pequeno somos nós e nossas questões pessoais. Existem pessoas com históricos radicalmente diferentes ao nosso e é essa expansão de horizonte que vale a pena.

Os meses que eu passei em Valparaíso como voluntário me permitiram conhecer pessoas do mundo inteiro, com histórias de vida tão diferentes que eu jamais poderia ter conhecido se tivesse ficado sempre no Brasil. Viajar é e sempre foi uma necessidade, só que agora é muito mais fácil.

Muitas coisas o levarão a sair. Aborrecimento, problemas, vontade pura e simples de viajar... não importa. Seja lá o que o fizer entrar naquele avião e ir para um país distante a viver uma aventura única não serão os mesmos motivos que te farão perseverar. 

A vida como voluntário é toda uma eternidade por dia. Suas questões rapidamente se farão diminuir e entrar em perspectiva, respondendo tuas antigas perguntas e te presenteando com um mundo de novos questionamentos. 

A vontade de ser um cidadão do mundo é razão suficiente para ser tornar um Worldpacker. O resto a experiência te presenteará sem que a tenha que pedir.

1. O que sentiu de diferente

O Chile é um país incrível. As pessoas que conheci e os amigos que fiz naquela terra eu levarei comigo até o fim. Em menos de um mês este carioca que vos fala havia trocado o gosto pela cerveja gelada ao sol pelo prazer interminável de uma garrafa de vinho compartilhada no frio daquele inverno. As festas foram trocadas pelos carretes e os amigos viraram weones. Para mim, que nunca havia sentido o frio de verdade, o calor humano ofuscou as temperaturas baixas.

Sair à rua para comprar um completo é algo que sinto falta até hoje. Não passa de um cachorro quente com maionese e abacate, mas comprado e feito em Valparaíso o sabor muda! Da mesma forma que pagar em média quinze reais em um vinho de altíssima qualidade internacional faz cada gole ter sabor de paraíso.

E eu nem comecei a falar nas paltas! É assim que se chama abacate em terras chilenas, mas não se engane; não é a mesma coisa. O Chile é a terra do abacate e cada paltita rica que compres vale mais a pena que qualquer um desses gordos e insípidos abacates que vais a comer em terras tupiniquins. 

O Brasil é um continente inteiro e tem muito a oferecer, mas só de saber como se come em um país tão vizinho como o Chile vale a pena enviar a mensagem para aquele host que te pareceu tão legal.



2. Experiências mais marcantes

Você já fumou um cigarro enquanto observava lobos marinhos lutando entre si? Era assim que se passava muitas tardes livres naquela linda cidade portuária. 

Em um cais abandonado, uma família inteira desses animais lutavam, gritavam, se davam carinho, caíam ao mar e se esforçavam para voltar. Essa é a imagem que tenho de um Chile que me presenteia com vistas tão impressionantes.

Perrengues foram inexistentes. A pior parte de toda a minha viagem foi quando esqueci de fazer uma fatura para um cliente internacional e a dona me olhou feio por cinco minutos, antes de dar um largo sorriso e dizer que tudo bem, mas que por favor não o faça outra vez. 

A possibilidade de serem os melhores dias da sua vida sem nenhuma experiência negativa é altíssima. Porque no final das contas, as melhores partes de Valparaíso foram os bons momentos que passei no terraço com toda aquela gente que eu tanto gosto e que me tratavam tão bem. Claro que existiam os ascensores e as vistas incríveis do porto, ou as casinhas coloridas no Cerro Alegre ou Concepción, mas nada batia as amizades feitas.



3. Contato com a cultura local

A cultura chilena me faz lembrar muito a mineira. A maneira como comem as palavras e emendam uma na outra me fez sentir muito a vontade para aprender aquele tão raro tipo de espanhol. Os carritos de completo na rua passaram a fazer parte da minha rotina quase diária e as garrafas de vinho que se compartilhava com os amigos é algo que eu vou levar comigo por todos os outros países nos quais estiver.

O chileno é amável, amigável e fala rápido. O brasileiro é e será bem-vindo lá ainda mais que em outros países da América Latina. Ainda que o maior choque cultural tenha sido a troca radical da cerveja pelo vinho, nada me marcou mais que as boas vibras daquele povo.



4. Habilidades desenvolvidas

Foi no Chile que aperfeiçoei meu espanhol. Trabalhando na Nómada fui capaz de aperfeiçoar as minhas habilidades já previamente adquiridas em um outro voluntariado em Buenos Aires, só que agora com a vantagem de ter gente ao meu lado que tinha verdadeiro interesse no meu aprendizado. 

O manuseio dos programas de reservas e a comunicação social com gente de todas as partes do mundo foram outras etapas da minha experiência chilena e crescimento pessoal que não poderia ter sido alcançado tendo ficado no Brasil.



5. Habilidades intrapessoais

Um emprego pode ser muito mais que isso. Fazer um voluntariado é uma experiência única, inigualável e palavras apenas começam a descrever o quão fundamental é sair do teu país e se jogar em uma aventura onde você será sua única defesa.

Não importa se você é tímido ou acha que o é, quando aquele telefone tocar você vai ter que atender e se comunicar com um hóspede em potencial, e terá que fazer em inglês ou espanhol. Isso constrói o caráter de uma forma única. O seu chefe dorme na mesma casa que você e seus companheiros de trabalho e fugir de uma ação bem-feita é impensável.



No final das contas, não importa quais serão seus defeitos. Todos eles terão que ser trabalhados. O sujeito que for a Valparaíso, Chile, ou a qualquer outra cidade de outro país sairá de lá uma pessoa muito mais desenvolta e desenrolada, muito mais vivida e com mais experiências. Se você tiver pensando em ir, já não há dúvida. Levanta do sofá e vá pegar aquele avião!




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