O que aprendi ao viajar 260 km de bicicleta sozinha

Vou dividir um pouco com vocês minha experiência de viajar de bicicleta sozinha por 260 quilômetros em três dias pela Costa Leste de Taiwan.

Torisa

Ago 30, 2020

7min

Relato de como foi viajar de bicicleta por Taiwan

Há dois eu não sabia andar de bicicleta.

Tentei algumas vezes enquanto morava em São Paulo no parque Villa Lobos e depois pela muralha em Lucca, Itália, ambas de forma extremamente atrapalhada e desequilibrada. 

Resolvi encarar o meu medo e comecei a andar de bicicleta pelas ruas de Vienna há dois anos, caí em diversas ocasiões sob o efeito do vinho e me senti segura após três meses conturbando as suas ruas. 

Fiz pequenas viagens de um dia de bicicleta em Taiwan, Vietnã, Malásia e Tailândia, mas a minha maior aventura sob duas rodas aconteceu durante o ano novo chinês desse ano em Taiwan.

Uma das maiores atrações turísticas em Taiwan é a sua Costa Leste e fazer essa viagem de bicicleta é certamente um desejo de muitos. 

Aluguei uma bicicleta na cidade de Hualien, pedalei até o Parque Nacional de Taroko, fiz uma trilha cedinho de manhã e comecei a minha viagem pedalando até o sul da Costa Leste em Taiwan, a cidade de Taitung. 

Foram 260 quilômetros pedalados sozinha em três dias acampando em lugares aleatórios e cerca de 400 quilômetros pedalados em 12 dias, das quais vou dividir mais detalhadamente apenas os três primeiros, uma vez que foram nesses dias o foco e maior desafio dessa viagem.

Confira um pouco do que aprendi ao viajar de bicicleta sozinha:

Primeiro dia

Após a minha primeira noite na minha rede a -2°C, acordei em meio às montanhas no Parque Nacional de Taroko e um rio abaixo da plataforma onde dormi. 

Comecei o dia em uma trilha de 6,2 km em três horas andando em um trajeto de cerca de 60 cm de largura para ter uma das vistas mais deslumbrantes dos seus penhascos.

Resolvi emendar a trilha à bicicleta e comecei a minha jornada rumo ao sul. No primeiro dia foram 72 km, onde os últimos 15 km me fizeram quase desistir. 

Vamos lembrar que eu não tinha experiência prévia de nenhuma viagem intensa de bicicleta, estava sozinha num trecho em meio às diversas montanhas de Taiwan, onde esses últimos quilômetros eram basicamente só de subida e, como se não bastasse, já eram 17h e o dia estava escurecendo rapidamente. 

Pensei inúmeras vezes em desistir e pedir carona até a cidade mais próxima, mas persisti, pedalei em meio à escuridão, encontrei um vilarejo e montei a minha tenda próximo ao mar.


Viajar de bicicleta: quais os desafios

Segundo dia

Acordei com o nascer do sol a poucos metros do mar fazendo os árduos 72 km do dia anterior valerem super a pena. 

E a vida não é basicamente feita disso? Sonhamos alto, criamos coragem para concretizar os desejos mais doidos, encontramos dificuldades, duvidamos da nossa capacidade, mas quando persistimos e alcançamos os nossos sonhos, viver aquele segundo em que sentimos uma mistura de orgulho, paz e felicidade fazem com que todas as pedras que surgiram no meio do nosso caminho valerem a pena. 

Cada lágrima, desespero, esperneio e crise valem a pena serem vividos quando aprendemos a superá-los e, cá entre nós, o que seriam das nossas conquistas sem um pouco de drama, não é mesmo? 

Com isso em mente, segui a minha viagem de volta à minha bike. O percurso inteiro é de tirar o fôlego, sendo a estrada extremamente favorável às bicicletas, seguro, com montanhas à minha direita e o deslumbrante Oceano Pacífico à minha esquerda.

Além de ser um país extremamente seguro, possibilitando acampar em qualquer ponto da estrada, o povo taiwanês é surpreendentemente amigável. Durante a minha jornada, me deparei com outros ciclistas me encorajando e moradores dos pequenos vilarejos bastante surpresos em ver uma mulher pedalando sozinha. 

Finalizei o meu dia acampando em um ponto de descanso em meio à estrada com vista para o mar.

Terceiro dia

O último dia foi marcado por uma mistura de emoções, oscilei entre orgulho, gratidão, apego e deslumbramento. 

Taiwan me surpreendeu tanto nessa jornada! Me mostrou o quão linda é por ser cercada pelo mar, o quão majestosa as suas montanhas são, o quão seguro é explorar e o quão amigável os seus habitantes são. 

Foram três dias intensos onde enfrentei mais um desafio e ganhei uma amiga linda que me levou desde o norte da Costa Leste ao Sul. Parece bobeira, mas a minha querida bicicleta alugada se transformou em uma super amiga e eu estava prestes a me despedir dela, uma vez que seguiria viagem para uma ilha ao sul e a empresa com quem aluguei a bicicleta não recomendava levá-la comigo por conta do risco de enferrujar a sua estrutura em contato com a água do mar.


Viajar de bicicleta por Taiwan me ajudou a superar meus limites mais uma vez

Passei a minha última noite na minha rede ao lado da minha bicicleta e me deparei brincando de adivinhar o formato das nuvens e cantando desafinadamente em alto e bom som. Qual foi a última vez que você fez isso? 

Me senti tão livre, em paz comigo mesma e, quando isso acontece, frequentemente me vejo voltando à simplicidade e aproveitando ao máximo os pequenos prazeres da vida. Vi dragões, bebês, girafas, macacos gigantes levando leões nas suas costas e tive um daqueles momentos de felicidade plena e de paz me inundando.

O restante da minha viagem envolveu uma das inúmeras ilhas de Taiwan, snorkeling, pequenas praias secretas, florestas e muitas bicicletas alugadas no caminho, mas não vou entrar em detalhes, porque como mencionado anteriormente, o foco desse artigo está na minha experiência nos três primeiros dias. 

Tive muitos momentos de reflexão e eis o que aprendi nessa viagem:

1. Razões para viajar de bicicleta

Sou a favor de fazermos o que temos vontade sem ter motivos definidos, mas se eu tiver que te convencer a escolher a bicicleta como meio de transporte, vou te dizer que nenhum outro meio vai te proporcionar a mesma intensidade que a bicicleta. 

Você vai sentir cheiros e ouvir sons que passariam despercebidos, vai poder definir o quão rápido ou devagar quer fazer a tua viagem, as pequenas cidades e vilas estarão mais ao seu alcance, vai poder ter maiores oportunidades de interagir com os moradores locais e conhecer mais da sua cultura e, de quebra, vai poder comer muito e ainda continuar super em forma.

2. Preparo

Sim, você vai precisar estar preparada fisicamente de acordo com o nível de dificuldade da tua viagem e vai precisar de alguns aparatos para facilitar o teu trajeto. 

Recomendo pedalar como treino algumas semanas anteriores à sua viagem para que você conheça os seus limites e até pra que possa se desafiar a ultrapassá-los. 

De longe sou a mais tradicional quanto ao uso de acessórios, mas depois da minha experiência, sugiro que se você for usar capacetes, compre um que te sirva adequadamente para maior conforto, luvas para proteção e conforto da palma da tua mão (acredite, após horas pedalando você vai sentir a diferença) e shorts com almofada para ciclismo. 

Ok, eu não usei nenhum dos acessórios mencionados acima, mas o meu capacete era alugado e me atrapalhava mais do que me protegia. E o shorts? Ah, eu senti falta dele após o primeiro dia. 

Sim, você se acostuma com o tempo e não é um item super indispensável, mas ajuda a enfrentar os quilômetros a serem percorridos. 

E a dica mais importante: mantenha-se bem alimentado e hidratado, mas nada muito pesado. Lembre-se que você estará se exercitando a maior parte do tempo.

3. Qual bicicleta escolher para viajar? 

Eu sou super novata ao ciclismo e a minha bicicleta foi escolhida pela empresa pela qual a aluguei e você só precisar informar o seu peso, altura e qual o tipo de viagem pretende fazer.

Aprenda a trocar o pneu e tenha um patch kit caso ocorra um imprevisto e o teu pneu fure. Vou ser muito sincera, eu não tinha nada disso comigo, mas eu estou num país extremamente seguro, onde eu poderia facilmente encontrar ajuda na estrada, então fui um pouco inconsequente e acreditei que conseguiria ajuda caso precisasse. 

É o famoso “faça o que digo e não o que faço”, né? Tente se familiarizar com a tua bicicleta antes da viagem, se possível e aprenda quais ações tomar em caso de imprevistos.

4. Cronograma

Estabeleça um cronograma de quantos quilômetros você pretende percorrer por dia, os pontos turísticos onde pretende visitar, comidas a serem experimentadas pelo caminho e leve em consideração as elevações, montanhas, estradas, tráfego e hospedagem. 

Eu tinha uma tenda e rede comigo e acampei espontaneamente pela estrada e vilarejos, mas, mais uma vez, Taiwan é extremamente seguro. Quanto à quilometragem diária, estabeleci um mínimo de 50 km e máximo de 80 km diários, tendo em vista que já tive a experiência de ter os mesmo percorridos em viagens 


Para viajar de bicicleta é importante ter um cronograma

Essa foi sem dúvida uma das melhores experiências que já vivi. Ser alguém que não sabia andar de bicicleta e que só ficava em hotéis para alguém que decidiu pedalar 400 km sozinha e acampar espontaneamente foi uma viagem e tanto. 

Pessoalmente, a maior satisfação foi em poder mais uma vez sair da minha zona de conforto e superar os meus limites.

Aprendi mais uma vez que a vida é feita de escolhas. Confie em seus instintos, que ele sempre te levará onde você deveria estar. "Ah, mas é difícil, solitário e assustador!". Muitas vezes é tudo isso e muito mais, mas não existe nada melhor do que aprender a amar a tua própria companhia, olhar pra trás e ver o quanto você cresceu, amadureceu e conquistou.

Por último, faça o que ama e não se preocupe se ninguém mais ama o mesmo que você. Eu tenho amigos soltos pelo mundo e nenhum deles toparia viajar de bicicleta comigo da forma como a fiz, mas eu conheci um novo amiguinho no caminho e, surpresa, ele encarou todas as minhas pedaladas, trilhas e acampou comigo nos lugares mais inusitados. 

O que quero dizer é: se permita se transformar quantas vezes forem necessárias, vá em frente e faça o que te da vontade e te traz alegria em viver que você vai encontrar pessoas que têm os mesmos interesses que você. Entre novos e velhos amigos, continue se redescobrindo, se explorando e superando cada obstáculo que você com certeza chegará onde você deveria estar. 



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