Tem dúvidas sobre como é trabalhar na recepção de um hostel? Nesse artigo vou dividir um pouco sobre a minha experiência e rotina de trabalho voluntário na recepção.
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Após oito experiências como Worldpacker e cinco delas trabalhando na recepção de hostels, tive muitos dias e noites maravilhosas, outras um tanto excêntricas, mas, no geral, formam hoje uma das melhores memórias e aprendizados que tive até hoje.
Existem inúmeros blogs e artigos sobre a vida no hostel do ponto de vista de hóspede, mas poucas sobre o que acontece de trás dos bastidores.
Se você está pensando em mudar a sua vida, embarcar numa nova aventura e sair completamente da sua zona de conforto, mas tem receio de não saber trabalhar com algo diferente da sua área, os seus problemas acabaram!
Vou te ajudar ao menos a ter uma ideia do que esperar e espero que ao fim desse artigo você possa se sentir mais confiante e se jogar nesse maravilhoso mundo dos hostels.
O passo a passo clássico consiste em:
No check out, preste muita atenção em três detalhes: o retorno da chave, confira se devolveu algum documento que possivelmente ficou na recepção (deixar o passaporte para trás é mais comum do que se imagina) e se o pagamento da estadia foi realizado por completo. Parece coisa pequena, mas perder a chave é dor de cabeça na certa, principalmente quando não se tem chaves reserva e você tem outros hóspedes para fazer o check in em poucas horas.
Ser organizado vai te ajudar muito trabalhando na recepção, mas se você ainda precisa desenvolver um pouco essa habilidade, recomendo manter um bloquinho de notas e vá listando dados importantes e tarefas a fazer.
Em alguns hostels você também será responsável pela venda de bebidas, atuar como social media, responder e-mails e reviews de hóspedes, organizar o sistema de booking e servir o café da manhã. Parece muita coisa, mas com a prática se torna mais fácil e você nunca vai estar completamente sozinho, certifique-se que você terá algum respaldo e ajuda mesmo que seja por telefone de algum responsável.
Caso você se depare com alguma inconsistência ou um hostel que ainda não é organizado devidamente, não se desespere. Ofereça ajuda e idéias para tornar o local melhor, afinal, estamos aqui para compartilhar experiências e aprendizados.
Tenha em mente que em cada hostel o fluxo é diferente, mas o básico não foge muito do padrão. Uma das experiências mais completas que tive foi em Ghent, no KaBa Hostel. É um hostel pequeno, sem funcionários fixos, onde os donos executavam todas as funções desde a recepção até a limpeza. Os voluntários entravam na brincadeira para que eles tivessem alguma vida e alguns dias de folga para cuidar das quatro filhas pequenas que tinham.
O nosso trabalho não era dividido por funções, mas sim por horários, significando que todos faziam de tudo um pouco, o que proporciona um aprendizado enorme de como um hostel funciona por completo.
Independente de quão diferente cada hostel possa ser, quem trabalha na recepção é automaticamente o melhor amigo de muitos hóspedes. Você é o rosto familiar diário em um local desconhecido e é pra você que todos vão perguntar o que fazer tendo apenas 24 horas ou uma semana na cidade, onde ir, onde comer e beber. O trabalho é divertido, gratificante, desafiador e vai te proporcionar momentos de grande aprendizado lidando com as mais variadas pessoas e situações.
Acredito que essa é a etapa mais demorada do check in e onde alguns problemas surgem. “Vamos pagar separado, mas eu vou fazer o check out um dia antes, tem como cancelar essa diária?”, “Amiga, você pagou pela água e eu paguei pelo táxi, você me deve x e eu te devo y. Moça, como fica a nossa parte considerando o “x” e “y”?”, “Fulano pagou pelo depósito, o restante divide entre nós 5 e vamos pagar o equivalente ao depósito para ele, da pra fazer essa conta pra nós?”, são esses e outros pedidos que você vai escutar ao trabalhar na recepção e com a ajuda de uma calculadora e um pedaço de papel, você vai tentar chegar num valor que faça sentido para os seus hóspedes, para você e para o caixa ao fim do dia.
Todo cuidado é pouco nesse momento, porque sim, você é responsável por fechar o balanço do dia e não queremos prejudicar os hóspedes e os donos do hostel, então muita calma, uma dose de senso de humor e na fé de que com a prática esse nó se torna cada vez mais fácil.
Em alguns hostels o hóspede pode pagar no check out, mas pela minha experiência, para evitar maiores confusões e hóspedes apressados misturados com outras situações, faça-o sempre que possível durante o check in. Vai facilitar muito a tua vida.
“Moça, acho que alguém passou mal e vomitou no elevador”, diz o seu informante com a maior cara de embriagado e vômito pela camiseta. Sim, muito obrigada e eu sei que foi você, mas obrigada mesmo assim por estar me contando e logo mais vou saber o que você comeu na janta também.
Desconsiderando as situações em que é esperado que você faça alguma limpeza básica pelo hostel, os pequenos acidentes que ocorrem durante o seu turno, como ajudar o hóspede a trocar roupa de cama por situações envolvendo comes e bebes, limpar aquele copo que quebrou e ocasionais vômitos estão implícitos na descrição do cargo de recepcionista.
Sim, você vai conseguir ajudar muita gente trabalhando na recepção. Saber que alguém teve uma experiência maravilhosa com a ajuda das suas dicas e recomendações é uma sensação difícil de definir e palavras me faltam para descrever o quão satisfatório é poder contribuir com uma parte da jornada de tanta gente.
Mas existe algo muito maior do que compartilhar pequenas ferramentas e experiências de viagem. O que ninguém ou poucos te falam é o quanto você vai aprender e crescer trabalhando na recepção de um hostel.
Mantenha a mente e o coração abertos para que cada experiência, pessoa e história possam modificar e auxiliar no seu crescimento e autoconhecimento. Além de servir como divã para muitos viajantes, sem perceber, ao ajudar e escutar tantas aventuras e pontos de vista diferentes, eles te ajudam muito mais do que você os ajudará, se assim você permitir.
Experiência prévia é sempre bem visto, mas nada impede você de brilhar sem nunca ter trabalhado na área antes. Sou enfermeira, trabalhei cinco anos na área e me joguei no mundo sem nunca ter trabalhado em nenhum lugar além de hospitais e hoje penso em ter o meu próprio hostel.
Se joga, esteja aberto para aprender a escolher a melhor playlist para o ambiente do hostel, a ser mais responsável e organizado e a desenvolver um sexto sentido mais aguçado. Mantenha-se aberto para novas experiências e garanto que você vai começar a olhar o mundo e as pessoas com outros olhos.